terça-feira, 27 de novembro de 2007

O amor acaba

Bresson


O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel (...)


Acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado (...)


no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes (...)


Em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.



Paulo Mendes Campos

Um comentário:

Anônimo disse...

como vc mesma disse:
acaba para recomeçar em outro lugar e a qualquer momento,,,,,
acredito pq quero acreditar.....
e é uma verdade que só aprendemos com o tempo....
bjs
mineira
virtualolhar